A importância das instituições financeiras de desenvolvimento no financiamento de longo prazo

As instituições financeiras de desenvolvimento (IFDs) públicas, presentes em diferentes regiões do mundo, desempenham um papel essencial em países de variados níveis de desenvolvimento. Por meio de diversos instrumentos financeiros, essas instituições impulsionam o financiamento de longo prazo e promovem o avanço de setores estratégicos da economia.

As IFDs também são cruciais em momentos de instabilidade no mercado de crédito, agindo de forma anticíclica para suavizar a redução na oferta de recursos por parte do setor privado. Assim, contribuem para uma recuperação econômica mais ágil em períodos de crise, como aconteceu na crise financeira de 2008/2009 e durante a pandemia de Covid-19.

O artigo publicado na Revista do BNDES 59, “As instituições financeiras de desenvolvimento e o financiamento de longo prazo: revisitando o debate”, aborda temas como a mobilização de recursos privados, os impactos da regulação financeira, as fontes de financiamento e a relação dessas instituições com os Estados onde atuam.

Os texto atualiza a discussão acadêmica com base na perspectiva pós-keynesiana, que justifica a existência das IFDs pela necessidade de financiar projetos que, devido à alta incerteza sobre seu sucesso, são frequentemente ignorados pelo sistema financeiro privado. Esses projetos tendem a ser de longo prazo, complexos, custosos e podem gerar benefícios econômicos e sociais significativos. Exemplos incluem investimentos em infraestrutura, inovação tecnológica, apoio às micro, pequenas e médias empresas (MPMEs) e iniciativas voltadas à economia verde, como o enfrentamento das mudanças climáticas e a transição energética.

Esses desafios são comuns tanto em economias desenvolvidas quanto em desenvolvimento, sendo exacerbados em períodos de crise econômica. As IFDs, com sua expertise e capacidade de avaliar projetos de alto risco, desempenham um papel essencial nesses contextos.

Principais IFDs analisadas

O estudo incluiu 12 instituições financeiras públicas nacionais reconhecidas por sua relevância econômica e ampla experiência. Entre elas estão:

  • Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Brasil;
  • China Development Bank (CDB), China;
  • KfW Bankengruppe (KfW), Alemanha;
  • Cassa Depositi e Prestiti (CDP), Itália;
  • Banque Publique d’Investissement (BPIfrance), França;
  • Japan Finance Corporation (JFC), Japão;
  • Instituto de Crédito Oficial (ICO), Espanha;
  • Korea Development Bank (KDB), Coreia do Sul;
  • Business Development Bank of Canada (BDC), Canadá;
  • Nacional Financiera (Nafin), México;
  • Vnesheconombank (VEB), Rússia;
  • British Business Bank (BBB), Reino Unido.

As instituições selecionadas demonstram solidez, diversificação e significativa contribuição econômica em seus respectivos países.

Financiamento de longo prazo

A atuação das IFDs tornou-se ainda mais relevante com o lançamento da Agenda 2030 da ONU e seus 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Essas instituições ajustaram suas estratégias de longo prazo para priorizar modelos econômicos inclusivos, sustentáveis e alinhados ao combate às mudanças climáticas e à redução das desigualdades.

Outro ponto destacado no artigo é a capacidade das IFDs de atrair recursos privados para projetos de longo prazo e alto risco. Elas fazem isso ao implementar inovações financeiras e usar instrumentos complementares, como garantias, empréstimos sindicalizados e securitização. Essas parcerias entre IFDs e investidores privados aumentam significativamente os recursos disponíveis para setores estratégicos.

Desafios regulatórios e estabilidade financeira

Embora os autores reconheçam possíveis desafios regulatórios, as exigências vigentes não têm representado obstáculos significativos ao cumprimento dos mandatos das IFDs. No entanto, algumas restrições, como limites para grandes exposições, podem impactar projetos relacionados à transição energética e ao enfrentamento das mudanças climáticas.

Por fim, o estudo reforça a necessidade de que as IFDs sejam instituições financeiramente sólidas, com acesso a fontes de recursos estáveis. Incentivos diretos e indiretos também são recomendados para fortalecer sua atuação como catalisadoras de desenvolvimento sustentável.

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