A decisão entre desenvolver tecnologia com equipes próprias ou buscar parceiros externos é um dilema estratégico que impacta diretamente os custos, os riscos e o aproveitamento de incentivos fiscais como a Lei do Bem.

Em um ambiente de negócios cada vez mais competitivo e dinâmico, a capacidade de inovar tornou-se um fator de sobrevivência e crescimento. Com o forte apoio de políticas públicas como a Nova Indústria Brasil e a disponibilidade de recursos via BNDES e Finep, as empresas brasileiras estão diante de uma oportunidade única para investir em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D). No entanto, uma questão fundamental precede o investimento: qual o melhor modelo para executar esses projetos? Desenvolver a tecnologia internamente, com equipes próprias, ou contratar a expertise de universidades, institutos de pesquisa e outras empresas? A resposta a essa pergunta tem implicações profundas não apenas na gestão do projeto, mas também na otimização dos benefícios fiscais, como os oferecidos pela Lei do Bem.
A escolha entre P&D interno e contratado não é trivial e não existe uma solução única para todas as empresas. Cada modelo apresenta um balanço distinto de vantagens e desvantagens, e a decisão correta depende da estratégia da empresa, da sua maturidade tecnológica, da natureza do projeto e da sua aversão ao risco.
O Modelo de P&D Interno: Controle e Retenção de Conhecimento
Manter as atividades de P&D dentro de casa é o caminho tradicional para muitas empresas, especialmente aquelas para as quais a tecnologia é o cerne do negócio. A principal vantagem deste modelo é o controle total sobre o processo, desde a concepção da ideia até a execução e a proteção dos resultados. O conhecimento gerado permanece na empresa, fortalecendo seu capital intelectual e capacitando a equipe para futuros desafios.
As principais vantagens deste modelo são a retenção do capital intelectual, mantendo o know-how na empresa; o controle estratégico total, garantindo alinhamento com os objetivos de longo prazo; e a clareza na titularidade da propriedade intelectual, que permanece exclusiva da organização.
No entanto, o P&D interno exige um alto investimento inicial em infraestrutura e na formação de equipes especializadas, o que resulta em custos fixos elevados e na concentração do risco tecnológico. “Apostar no P&D interno é construir uma fortaleza de conhecimento, mas é preciso ter fôlego financeiro para construir e manter essa estrutura”, pondera Brendo Ribas, sócio da Macke Consultoria. “O custo de oportunidade de ter uma equipe de ponta ociosa pode ser alto se não houver um fluxo contínuo de projetos.”
O Modelo de P&D Contratado: Flexibilidade e Acesso à Expertise
A contratação de P&D, ou inovação aberta, tem ganhado força como uma alternativa flexível e eficiente. Ao firmar parcerias com universidades, centros de pesquisa ou empresas especializadas, a organização ganha acesso imediato a conhecimentos de ponta e a infraestruturas de classe mundial, sem a necessidade de grandes investimentos iniciais.
As principais vantagens incluem o acesso a especialistas e conhecimentos de ponta que não existem internamente; a redução de custos fixos, já que o investimento é variável e atrelado ao projeto; e o compartilhamento do risco tecnológico com o parceiro contratado.
O grande desafio do P&D contratado reside na gestão da parceria e na proteção da propriedade intelectual. Contratos mal estruturados podem gerar disputas sobre a titularidade da inovação e levar ao vazamento de informações estratégicas. A Lei do Bem, felizmente, contempla plenamente os dispêndios com P&D contratado, equiparando-os aos gastos internos para fins de incentivo fiscal, desde que a contratação seja devidamente formalizada e documentada.
O Modelo Híbrido: O Melhor dos Dois Mundos
Para a maioria das empresas, a solução mais eficaz não é uma escolha binária, mas sim um modelo híbrido que combina a força do P&D interno com a flexibilidade do P&D contratado. Nesse formato, a empresa mantém internamente as competências centrais e estratégicas, enquanto busca parceiros para desenvolver tecnologias complementares ou para acelerar projetos específicos.
“O modelo híbrido permite que a empresa construa uma base sólida de conhecimento interno e, ao mesmo tempo, beba de fontes externas de inovação. É a forma mais inteligente de otimizar recursos, mitigar riscos e maximizar o aproveitamento de incentivos como a Lei do Bem”, explica André Maieski, sócio da Macke Consultoria. “Nosso trabalho é analisar a carteira de projetos do cliente e desenhar a arquitetura de P&D ideal, identificando onde faz sentido internalizar e onde é mais vantajoso buscar parcerias.”
Em um cenário onde a agilidade é crucial, saber equilibrar os modelos de execução de P&D é, por si só, uma inovação na gestão. As empresas que dominarem essa arte estarão mais preparadas para transformar os desafios tecnológicos em oportunidades de mercado, garantindo um crescimento sustentável e capitalizando ao máximo o ambiente favorável à inovação no Brasil.